Fonte: Notícias
Conversar com a guitarra para ironizar o quotidiano é um dom raro que faz de Domingos Honwana, mais conhecido por Xidiminguana, de 85 anos completados a 3 de Agosto corrente, um músico especial.
Este elemento, ainda hoje, caracteriza o ancião nascido em 1936, na localidade de Vuthu, distrito de Bilene, província de Gaza, filho de camponeses e antigo pastor de gado, cujo destino quis que fosse conhecido como um dos maiores fazedores da música tradicional da história do país.
O autor de sucessos como “Xikona”, “Nihlayisse”, “Nikhome Nkata”, entre outros, que se iniciou na música no final da década de 1940, manipulando uma viola a base de lata, ainda consegue provar que a música está mais além da idade.
Foi assim que revelou à sociedade que há ainda no seu coração um grande desejo de voltar a pisar os palcos, desejo esse que, a realizar-se, poderá ser ao lado da ministra da Cultura e Turismo, Edelvina Materula.
A governante e colega de profissão, estiveram na sexta-feira última, a sua residência, e deixou ficar a promessa que deverá ser concretizada logo que as restrições de prevenção da pandemia do novo coronavírus forem aliviadas.
“O nosso próximo encontro será em cima dos palcos”, referiu a ministra.
Esta decisão foi como cura para os males que, de vez em quando, se intrometem na vida do astro da música, que recentemente esteve doente. “Agora, até posso perseguir um ladrão”, brincou Xidiminguana, para dizer que está a melhorar.
Entretanto, nem com a saúde debilitada o tira a vontade de vencer com a qual chegou à antiga Lourenço Marques, actual cidade de Maputo, nos anos 1980, tendo, para além de cantar, ter trabalhado até a reforma, em 1996, na empresa Portos e Caminhos de Ferro-de-Moçambique.
Foi assim que conseguiu a proeza de os seus 85 anos de vida se caracterizarem pela dedicação à música. Não é por acaso que Xidiminguana é um dos maiores nomes da arte musical nacional. Ao falar dela, é obrigatório mencioná-lo.
É este reconhecimento que fez com que, na sexta-feira passada, todos os caminhos desse ao bairro da Maxaquene
“C”, pois, para além da ministra da Cultura e Turismo, jornalistas, músicos, amantes da música e apaixonados pela magia da guitarra de Xidiminguana fizeram-se à sua casa.
Confirmou-se que a idade do artista é apenas números. “Para além de ser da família Honwana, é também um bem público, uma estrela de Moçambique e de África”, considerou o músico Félix Moya, em representação da família.
Vai ser por isso que o fazedor da música pegou a guitarra e interpretou as suas músicas. Viajou pela infância, a sua e a dos seus compatriotas. Fez-se filho e pai. Educou os que a ele contemplavam como se lá estivessem para ouvir os conselhos que a sua música fez a questão de eternizar.
Fez ainda aquilo que é conhecido por fazer, conversar com a guitarra. É já a sua marca fazê-lo com recurso a uma garrafa de vidro. As mãos sempre entram em sintonia com as cordas do instrumento com o qual mais amizades criou na vida. Xidiminguana não toca viola, comunica-se com ela.
Mostrou-se um homem de poucas palavras na hora de conversar com a guitarra e sobretudo soltar as notas que residem na sua alma. É que cantar, para o artista, é a sua maneira de ser e estar no mundo.
É neste sentido que o quotidiano não o escapa das mãos e na voz. Canta histórias do dia-a-dia com forte dose de ironia. É esta ironia que o músico, naquela tarde, quis mostrar. E conseguiu.
É por este e outros motivos que o astro da aclamada “velha-guarda” foi um dos distinguidos do Mozambique Music Awards (MMA 2010) e venceu o Prémio Carreira 2016, do Ngoma Moçambique, organizado pela Rádio Moçambique (RM), com o álbum “Dlawanine”.
Recebeu ainda, em 2015, o prémio “Lenda Viva”, na África do Sul, durante o Chitsonga Music Awards e foi homenageado por diversas ocasiões.