Fonte: Observador
Auditoria à dívida do ex-presidente do Benfica conclui que reestruturação era solução que permitia preservar um maior valor. Mas diz que Novo Banco assume risco de negócio. A Imosteps ficou de fora.
A auditoria à reestruturação da dívida de Luís Filipe Vieira ao Novo Banco foi remetida esta segunda-feira à comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco numa altura em que os deputados estão já a votar as propostas de alteração ao documento proposto pelo relator Fernando Anastácio.
De acordo com a informação recolhida pelo Observador, a auditoria pedida pelo Fundo de Resolução ao Novo Banco — e que demorou mais de um ano a ser feita — deixa de fora a operação mais polémica relacionada com a venda do crédito da Imosteps a um grande desconto que acabou por ir parar às mãos do empresário José António Santos, sócio de Vieira e acionista do Benfica.
A Imosteps que detém direitos de construção no Brasil ficou de fora da reestruturação da dívida de Luís Filipe Vieira no Novo Banco e é um dos focos da investigação do Ministério Público que levou à detenção do então presidente do Benfica e do empresário dono da Valouro. O tema da Imosteps foi também incontornável na comissão parlamentar de inquérito à gestão do Novo Banco, onde foi revelado pelo próprio Vieira que José António Santos tinha comprado a dívida desta empresa a um fundo — livrando o então presidente do Benfica do aval pessoal associado — depois do Fundo de Resolução ter chumbado o negócio proposto pelo Novo Banco.
Para além da compra da dívida pelo “Rei dos Frangos” por nove milhões de euros — o valor da mesma era de 54 milhões de euros, mas o Novo Banco já tinha reconhecido a perda, o ex-presidente do Benfica revelou aos deputados que tinha ficado com a Imosteps para fazer um valor a Ricardo Salgado quando era presidente do BES. Outra suspeita levantada pela deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, apontava para o desvio de oito milhões de euros do crédito concedido à Imosteps para uma conta de Vieira. Estas questões estão a ser escrutinadas pelo Ministério Público, mas ficaram de fora da auditoria pedida pelo Fundo de Resolução há quase um ano e que só agora foi conhecida,
Os documentos a que o Observador teve acesso da auditoria realizada pela BDO centram-se na reestruturação da dívida associadas às principais empresas imobiliárias de Vieira, a Promovalor e a Inland, feita em 2017.
A auditora considera que a solução de transferir os ativos e passivos associados a esta dívida para um fundo de investimento foi um cenário favorável ao Novo Banco face a outras alternativas como a execução de garantias ou de avales pessoais.
A transferência dos projetos imobiliários para um fundo apresenta maior probabilidade de salvaguardar o valor dos ativos, conclui. No entanto, assinala também que o banco não tentou fazer qualquer tentativa de venda prévia dos créditos do ex-presidente do Benfica que se demitiu. E diz que com esta solução — em que a dívida ao Novo Banco será reembolsada com as receitas da exploração dos projetos imobiliários — o banco assumiu diretamente o risco do negócio.
Em linha com os reparos já feitos pelo Banco de Portugal, a auditoria alerta para debilidades no plano de negócios do fundo gerido pela sociedade Capital Partners de Nuno Gaioso Ribeiro. A BDO diz ainda que a escolha desta sociedade liderada por um ex-administrador do Benfica, e na qual o filho de Vieira teve uma participação, teve “impactos reputacionais negativos.
São ainda sinalizados riscos e limitações que podem resultar em valores de recuperação mais baixos que os previstos, para além de custos acrescidos e não estimados.