Fonte: O País Online
Paulo Vahanle tinha tudo para sair e ser lembrado com saudade por ter assumido uma estratégia de pavimentar um a dois quilómetros de umas cinco vias vicinais, mas pecou ao deixar quase todas as ruas e avenidas do centro extremamente esburacadas e a rua de Marrere com uma obra mal feita.
A rua de Marrere é uma importante via vicinal. Faz ligação entre a estrada Nacional n.°1 e o hospital geral de Marrere, rasgando o passando com mesmo nome e passando pelo campus da Universidade Lúrio.
Depois de anos de calvário, em 2021 o autarca Paulo Vahanle lançou as obras de asfaltagem de um primeiro troço de 1,2 km. A empreitada incluía uma ponte de pequena dimensão e custou pouco mais de 40 milhões de Meticais dos cofres da autarquia.
Sem experiência em obras do género, a empresa Zac Construções ganhou o concurso público e executou as obras, que ainda no decurso já mostravam sinais de dúvida da sua qualidade. E não tardou para se confirmar o que mesmo os mais leigos suspeitavam.
Bastou uma chuva torrencial numa noite para destruir parte do troço, um mês depois da inauguração, em 2022. A partir dai começou uma novela que incluiu vários capítulos, desde a intromissão ilegal do então secretário de Estado, Mety Gondola, visto que as autarquias locais são autónomas na sua administração e gestão, até à exigência de devolução do dinheiro por parte do empreiteiro feita publicamente por Paulo Vahanle, que igualmente prometera processar judicialmente a empresa em causa.
O certo é que até hoje a estrada está na mesma situação, deixando milhares de utentes desgastados.
“Esta situação nem tem nome. É caos. Só isso. Estamos a estragar as nossas viaturas”, lamenta Zainaba Chicomo, falando à nossa reportagem ao volante da sua viatura de baixa suspensão.
João Bernardo é motorista de transporte escolar. Enquanto fazíamos a reportagem no terreno passava para deixar algumas crianças algures no bairro de Marrere. Sem rodeio, desabafa: principalmente nós que transportamos crianças é terrível.
Entretanto, Alberto Jerónimo, automobilista, entende que o presidente do Município que termina o seu mandato esta quarta-feira, foi sabotado pelo empreiteiro ora contratado.
Na mesma estrada decorrem obras do segundo lote de 24 quilómetros. Se no primeiro troço podia falar-se da consequência do baixo custo da empreitada, no segundo troço, que vai até ao Hospital Geral de Marrere, o valor da obra é de mais de 100 milhões de Meticais. Os munícipes colocam exigências: os que estão a tutelar estas obras que venham inspeccionar como deve ser para que possamos ter uma estrada com durabilidade, apela Duque Bila, outro automobilista.
Mudando para outro extremo do Município de Nampula, da Avenida das FPLM até ao bairro de Namiteca, a situação das estradas é praticamente a mesma – degradadas.
“Quando chove, passamos mal. É um problema circular por aqui”, lamenta Juma Mussa, motociclista.
Da periferia ao centro da cidade, são buracos e mais buracos.
Com este estado das vias, o desgaste do sistema de suspensão das viaturas é rápido, tal como explica Zainale Alberto, formador de Mecânica-auto no Instituto Industrial e Comercial de Nampula.
“Temos estas molas e dentro delas temos os amortecedores. Os pneumáticos também estão inclusos e as barras sofrem muito – a maioria dos componentes da suspensão”.
Com esse desgaste, conclui o formador, a frequência de manutenções periódicas é maior se comparado com países que têm estradas em melhores condições de transitabilidade.