Fonte: O País
Uma agente da Polícia da República de Moçambique (PRM) realizou, na manhã do último sábado, o parto de uma moradora de rua, com a ajuda de dois colegas.
O dia começou normal para os três agentes da PRM, que se encontravam em trabalho de patrulha na baixa da cidade de Maputo. Eis que, de repente, se aproximou um homem a pedir socorro. A princípio, os agentes pensavam que se tratava de uma ocorrência comum. De armas em punho, algemas accionadas, prepararam-se para prender os supostos “meliantes”. Mas, a surpresa deu-se quando chegaram ao local ao foram levados.
“Entrámos numa cabana e só ouvíamos gritos, eram gritos de dor, assustados, entrámos e vimos uma mulher em serviço de parto; ela estava ali há muito tempo e o bebé já estava a sair, não havia mais tempo”, contou Janaina Atanásio.
E porque já não havia como levar a mulher ao hospital, os agentes, sem nenhuma experiência em cenários iguais e com algum medo à mistura, decidiram despir a sua farda de agentes da ordem, para vestir a de profissionais de saúde.
A agente Sheila Chivite, mãe de dois filhos, foi a “parteira”. Conta que, no passado, perdeu um bebé e, naquele momento, o desespero tomou conta de si, pois receava que a situação pudesse repetir-se, mas, mesmo assim, não hesitou.
“Entreguei a minha arma ao colega Jorge e pedi à colega Janaina que pegasse a lanterna, porque o local estava escuro. Nunca tinha realizado ou assistido a um parto, mas, naquele momento, de tudo fiz para ajudar a mãe e, com a ajuda de Deus, conseguimos, nasceu o bebé”.
O heroísmo da agente não parou por ali, sem nenhuma experiência e com dúvidas da sua capacidade, o parto foi realizado com a ajuda da sua mãe, uma parteira reformada com quem falava ao telefone. Narra que, embora a criança tenha nascido, não chorou e, mais uma vez, viu-se no dever de agir.
“Ao sair, o bebé ficou preso pelo pescocinho, depois de o tirarmos, ele não chorou; foi quando a minha mãe me disse que tinha de massagear as costas dele. Fiz isso e, de imediato, ele chorou, emocionei-me, porque não imaginava que algo do género fosse a acontecer”, recordou.
“Eu tinha, na mão, duas vidas que dependiam de mim naquele momento”, afirmou, orgulhosa.
O vídeo, que circula pelas redes sociais, mostra que, depois do parto, a agente chora e, mesmo em conversa com “O País”, não segurou as lágrimas, pois “fiz o que não consegui fazer pela minha filha, salvei a vida de pessoas desconhecidas, algo que não consegui fazer com o meu bebé”, disse, com lágrimas no rosto.
Os agentes têm apenas 11 meses na corporação e Jorge Justino, que no momento foi responsável por guarnecer o local para evitar a concentração de muitas pessoas, diz que a colega, responsável pelo parto, o fez sem nenhuma protecção, como o caso de luvas.
Conta que nunca sequer tinha imaginado passar por situação igual, mas, como são agentes que se juraram à bandeira nacional, aquele foi o seu papel no momento e insta os colegas a cumprirem o dever de ajudar, sempre, o próximo.
“O nosso dever não é apenas prender o ladrão, devemos ajudar todos, quer pobres, quer ricos, nacionais ou estrangeiros; não importa a situação, devemos honrar o nosso fardamento”, terminou.