Fonte: O País
Antigos guerrilheiros da Renamo, desmobilizados no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), residentes em Marínguè, estão agastados pelo facto de não receberem pensões, situação que contribui para piorar as suas condições de vida. Os desmobilizados, que sobrevivem na base da agricultura, apelam à direcção máxima da Renamo e ao Governo moçambicano para acelerarem o processo de pagamento de seus subsídios.
Os mesmos queixam-se de, passados dois anos depois de lhes ter sido prometido o pagamento de pensões, nada ter acontecido em relação a este processo. Os desmobilizados manifestaram a sua indignação durante um encontro mantido com o governador de Sofala, Lourenço Bulha.
“Fui desmobilizado há cerca de dois anos. Houve promessas. Disseram-nos que as nossas pensões estariam automaticamente disponíveis logo depois do fecho do processo de DDR. Passam dois anos e, infelizmente, nada acontece. Os calos que se podem ver nas minhas mãos são a prova de que todos os dias cultivo a terra para poder alimentar os meus 12 filhos e duas esposas na base de esforço pessoal”, queixou-se Ruzenda Samsong, antigo coronel de guerrilha da Renamo, desmobilizado no âmbito do DDR, em Sofala, e agora a residir no distrito de Marínguè.
Os antigos guerrilheiros da Renamo fazem parte de um total de 100 homens que acabam de se beneficiar de galinhas para criar, vender e obter renda. A iniciativa é do Delpaz, um programa de desenvolvimento local para a promoção da paz.
Sem possibilidade de receberem as pensões prometidas, e para sua sobrevivência, dedicam-se à agricultura como forma, igualmente, de reintegração na sociedade moçambicana.
“A solução é mesmo recorrer à enxada e cultivar. Roubar pode culminar com cadeia. Estão, constantemente, a pedir-nos documentos. Temos de fazer fotocópias e fotocópias, entregar à sede da Renamo e às autoridades locais, que, depois, enviam os documentos para a cidade da Beira. Mas não temos nenhuma informação sobre o pagamento das pensões. Apenas dizem amanhã, amanhã, amanhã. Pedem-nos para esperarmos”, lamentou um dos desmobilizados.
Os antigos combatentes da Renamo louvaram a iniciativa da Delpaz, mas para eles a mesma não resolve as suas necessidades básicas. “Viemos aqui na esperança de receber cabritos ou bois. Infelizmente, recebemos galinhas. Longe das nossas expectativas, mas, enfim, vamos alimentar estas galinhas na esperança de as ver a reproduzirem-se e obtermos alguma renda familiar”, manifestou-se um dos desmobilizados.
O governador de Sofala, Lourenço Bulha, sossegou os combatentes da Renamo, garantindo que as pensões serão pagas e que os mesmos devem continuar a apostar na agricultura, que terão apoios para melhorar a renda.
Refira-se que, recentemente, o Presidente da República, Filipe Nyusi, disse que a morosidade no pagamento das pensões estava relacionada com problemas nas documentações apresentadas pelos combatentes da Renamo e que o Governo está ciente da sua responsabilidade.