Fonte: O País
O posto administrativo de Matchedje, no distrito de Sanga, província do Niassa, é o mais recente a entrar nas estatísticas. O Presidente da República foi reconciliar-se com a história ao dar “luz solar” à população do sítio onde em 1968 Eduardo Mondlane dirigiu o II Congresso da FRELIMO, “às escuras”.
O Governo de Filipe Nyusi começou uma longa empreitada de desenvolvimento e em 2015, dentro das quatro áreas eleitas como pilares do desenvolvimento, foi seleccionada a energia eléctrica como uma das áreas prioritárias, e o aumento de acesso à energia para os moçambicanos foi definido como a grande missão, tendo avançado para a electrificação das sedes distritais.
Em 2019, o Presidente da República lançou o desafio de electrificação de todos os postos administrativos até 2024 e na altura, 135 não estavam electrificados, dos quais 41 seriam através de sistemas isolados. Até final deste ano espera-se que sete estejam electrificados, segundo Pascoal Alberto Bacela, director nacional de Energia.
“A aposta era, até 2024, e é, cobrir todos os postos administrativos. Foi feito um rápido levantamento, identificados 135 postos administrativos não electrificados e a avaliação feita permitiu definir e estabelecer que 94 seriam electrificados através da rede eléctrica nacional e os restantes 41 através de sistemas isolados e é o que está a acontecer. Até ao final do ano, sete já estarão cobertos e a nossa planificação mostra que até 2024 teremos todas as sedes de postos administrativos cobertas”.
A visão estratégica do Governo tem como meta o acesso universal à energia elétrica em Moçambique em 2030, como parte do plano assumido internacionalmente e como não é possível levar a rede pública a todos os pontos do país, foi escolhida a opção de sistemas isolados, baseados em painéis solares e de energia eólica, para além dos painéis solares residenciais para aquelas pessoas que não estão agrupadas o suficiente para sustentarem o investimento de uma mini-rede.
Na semana passada, o posto administrativo de Matchedje, distrito de Sanga, na província do Niassa, entrou para a lista das mini-centrais fotovoltaicas à base de painéis solares a entrarem em funcionamento no país. Isália Dimene, chefe da Divisão de Qualidade e Ambiente no Fundo Nacional de Energia (FUNAE), deu o overview daquele projecto que custou aos cofres do Estado 134 milhões de meticais.
“Estas questões de energia têm muito a ver com o acreditar. Quando se começa a fazer um projecto as pessoas têm sempre alguma dúvida, depois de muitos anos na escuridão. Então, fizemos um levantamento inicial para ver quais eram as potencialidades que existiam, como é que a população está organizada para podermos encontrar a melhor forma de poder electrificar. Temos sempre que ter presente que estamos a falar de uma mini-rede e há requisitos técnicos que é preciso seguir e é dentro deste âmbito que foi feito aqui um estudo de levantamento de dados, houve uma coordenação muito forte com as comunidades locais para poder identificar tecnicamente e praticamente como é que podíamos fazer esta conjugação de modo a cobrirmos esta comunidade de Matchedje”.
A central fotovoltaica de Matchedje tem capacidade para uma produção de pico de 223 kwatts, estando neste momento a iluminar cerca de 200 beneficiários, mas tem capacidade para ligar até 900 beneficiários, sejam domésticos ou comerciais médios.
Durante a cerimónia de inauguração, Filipe Nyusi fez um discurso inspirado num passado de luta anti-colonial, atendendo que foi em Matchedje onde em 1968 realizou-se o II Congresso da Frente de Libertação de Moçambique, e o primeiro no território nacional, uma vez que o primeiro realizou-se na vizinha Tanzânia.
“Viemos aqui para [nos] reconciliarmos com a história. É daqui que saíram recomendações e resoluções para se libertar o país. Só depois de 40 e tal anos é que trouxemos energia. Não nos sentimos atrasados, mas é a reconciliação definitiva com a história, neste caso, porque o bem-estar para os moçambicanos de que estamos a lutar foi desenhado neste passo. Este espaço merece muito mais e estamos comprometidos em fazer o que ainda não foi feito (…) Eduardo Mondlane deve estar satisfeito por saber que sentou onde não havia energia, mas o país que ajudou a libertar continua a valorizar os ideais e a concretizar aquilo que ontem parecia um compromisso”, disse o Chefe de Estado.
A mini-central fotovoltaica de Matchedje, para além dos painéis solares, conta com 576 baterias que permitem armazenar energia eléctrica para fornecer durante dois dias, mesmo sem irradiação solar. Neste momento foi estendida uma rede de 3.3 km de média tensão e 6.6 km de baixa tensão. De forma imediata há instituições que já beneficiam da energia eléctrica como é o caso da escola secundária local, hospital, que passa a realizar partos nocturnos, por exemplo, a estação meteorológica, para além dos consumidores domésticos que pela primeira vez vivem iluminados.
“Há moageiras que funcionavam à base de combustível e às vezes parava-se quatro a cinco dias sem funcionar, mas vai mudar porque teremos moageiras usando energia”, testemunhou Ernesto Ricardo, líder comunitário do 3º escalão, que aos 58 anos de idade, nativo de Matchedje, é passa a usar energia eléctrica na sua residência.