Fonte: Jornal Económico
“Infelizmente já percebemos a mensagem dos taliban. Embora estejam a procurar passar uma mensagem de maior moderação a comunicação é ambígua o suficiente para percebermos o pior”, disse o diretor executivo da organização ao Jornal Económico.
A crise no Afeganistão continua em destaque e o diretor-executivo da Amnistia Internacional Portugal, Pedro Neto, apontou ao Jornal Económico (JE) que “o futuro pode ser de muita escuridão”.
No domingo, os taliban invadiram Cabul, a última meta no sentido de dominar o Afeganistão. Segundo as regras conhecidas dos taliban, as liberdades e direitos dos cidadãos, principalmente das mulheres, estão em risco. Como tal, Pedro Neto prevê que se possa assistir a um “regresso ao passado”.
“Infelizmente já percebemos a mensagem dos taliban. Embora estejam a procurar passar uma mensagem de maior moderação a comunicação é ambígua o suficiente para percebermos o pior”, garante o diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal, citando um exemplo da primeira conferência de imprensa dos Taliban onde disseram que “as mulheres não serão descriminadas no contexto da sharia”
“Portanto, percebemos que esta interpretação extremista da lei islâmica não tem descriminação, mas é dentro dos limites que a sua interpretação da sharia compreende”, sublinhou Pedro Neto.
Na terça-feira o responsável pela comunicação dos taliban, Zabihullah Mujahid explicou que “as mulheres vão poder trabalhar. Vão poder ir à escola. Podem trabalhar nas escolas, nos hospitais”. “Será permitido que trabalhem consoantes os princípios do Islão”, completou.
“Como vão fazer? Vão construir escolas de um momento para o outro para fazer a segregação, escolas para rapazes e escolas para raparigas?”, questiona-se Pedro Neto que também não acredita que vão existir mulheres “ao mais alto nível no governo” como também os taliban anunciaram.
Segundo o representante da seção portuguesa da Amnistia Internacional “nada leva a crer” que as promessas sejam “fidedignas”. “Portanto, tememos o pior, um abuso dos direitos humanos a crescer, a escalar”, frisou Pedro Neto lembrando que “o Afeganistão já não estava bem antes, com os abusos perante mulheres, crianças, abusos sexuais, recrutamento de crianças para serem crianças soldado que por parte dos talibãs, que por parte do das forças militares do governo”.
Quanto ao que deve ser feito para ajudar os cidadãos, Pedro Neto sugere a criação de “rotas legais e seguras e o acolhimento de todos aqueles que fugirem”, mas receia que aconteça com os afegãos o mesmo que aconteceu aos refugiados sírios.