Fonte: Ponto Certo
«No rol das questões, a Ordem dos Advogados de Moçambique, assistente do Ministério Público neste processo, quis saber se o réu tinha conhecimento de que os empréstimos feitos com garantias de pagamento ao Estado estavam a causar danos ao povo moçambicano. Desta feita, Ndambi optou por não se calar novamente ou responder com mais um “acredito que respondi a essa pergunta ontem”, um “não gostaria de responder essa pergunta”, ou ainda com um “pergunte a Jean Bosutani, ele pode responder”. Gostaria de dizer, meritíssimo, que este assunto é político. Senão, vamos entrar num outro debate, meritíssimo.
Se o digníssimo advogado quer, vamos entrar no assunto político”, respondeu. Os advogados quiseram ainda saber mais sobre as viagens com outro réu, Nhangumele, que dizia que não o conhecia, num avião privado da Privinvest, ao que Ndambi Guebuza respondeu de forma esquiva: “A causa da minha prisão é por causa das dívidas ocultas. O povo moçambicano quer saber o que aconteceu com os 2,2 mil milhões de dólares e aqui estamos a falar de jatos privados, de bebidas, vinhos e o povo quer saber o que se passou realmente. É isso, meritíssimo”. Hoje, o Tribunal Judicial da cidade de Maputo deverá ouvir o réu Bruno Langa, amigo de Ndambi Guebuza, que recebeu 8,5 milhões de dólares de Jean Boustani, negociador da Privinvest.
Na audicao de terça-feira, Ndambi Guebuza, negou em tribunal ter recebido dinheiro da Prinvinvest, na esteira do julgamento das dívidas ocultas.
O Tribunal exibiu vários e-mails em que o outro co-réu, Teófilo Nhangumele, e Jean Boustani, negociador da Privinvest, falavam em divergências na divisão dos 50 milhões de dólares entre Teófilo, Ndambi Guebuza e Bruno Langa. Numa das conversas, Nhangumele queixava-se a Jean Boustani do fato de Ndambi Guebuza ter recebido 33 milhões de dólares e os outros companheiros, Bruno Langa e Teógilo Nhangumele, terem recebido 8,5 milhões cada.
“Acordou com os seus amigos Bruno e Teófilo em dividir uma quantia de 50 milhões de dólares. Tiveram uma conversa, um acordo nesse sentido?”, questionou o juiz.
“Nunca tive esse tipo de conversa com eles de 50 milhões de dólares para dividir, nunca tive essa conversa”, respondeu o réu.
O juiz da causa, Efigénio Baptista, perguntou Ndambi Guebuza se teria recebido, confirmado e assinado a recepção de uma parcela de 14 milhões de dólares, mas o réu Ndambi não confirmou.”Meritíssimo não fiz nenhuma transferência de 14 milhões de dólares, nem recebi 14 milhões de dólares nessa conta”, disse.
E o juiz insitiu: “O e-mail diz que o senhor recebeu do grupo Privinvest [faz menção aos] 14 milhões de dólares. E confirmou aqui a recepção”.
“Não meritíssimo. Não recebi 14 milhões de dólares da Privinvest, é falso. Mas esta é sua assinatura? Mas é falso, não recebi. Pode-se forjar a assinatura hoje em dia, é falso porque não recebi 14 milhões de dólares da Privinvest meritíssimo”, reagiu Ndambi Guebuza.
Ndambi Guebuza preferiu responder com questões a maior parte das perguntas colocadas, tanto pelo juiz como pela magistrada do Ministério Público (MP), e usou indevidamente o tempo para responder as questões para denunciar o que considera de perseguição a si e a sua família por parte do Ministério Público, quando este quis saber da abertura de uma conta bancária nos Emirados Árabes Unidos. “Tem acontecido na nossa família… Perseguições contra a nossa família em que a PGR é um veículo utilizado para perseguir não só a minha família, mas também aos combatentes da luta de libertação deste país. A missão da PGR é perseguir, denegrir a imagem, maltratar e prender”, acusou Ndambi Guebuza. São no total 19 réus que o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo devera arrolar neste processo das dívidas ocultas e perto de 60 declarantes. No esquema, segundo a acusação, o filho de Armando G u e b u z a t e r á r e c e b i d o aproximadamente 28 milhões de euros em subornos para influenciar o seu pai para a aprovação de um projeto de proteção costeira, usado como pretexto para contrair as dívidas ocultas avaliadas em cerca de dois mil milhões de euros.
As dívidas ocultas foram contraídas entre 2013 e 2014 junto dos bancos de investimentos Credit Suisse e VTB, banco russo, pelas empresas estatais moçambicanas Proindicus, Ematum e MAM. Os empréstimos foram secretamente avalizados pelo Governo, liderado na altura por Armando Guebuza, sem o conhecimento do Parlamento e do Tribunal Administrativo.