Fonte: DW
Para combater uso de madeira de desmatamento ilegal e preservar florestas, ativistas moçambicanos devenvolvem várias iniciativas, incluindo a produção de carvão vegetal a partir do papel.
A produção de carvão vegetal em Moçambique está associada a uma série de malefícios – principalmente quando acontece de forma clandestina. Além dos prejuízos para o meio ambiente com o uso de madeira de desmatamento ilegal, há registos de trabalho escravo na sua produção.
Mais de 40 metros cúbicos de madeira foram aprendidos por fiscais florestais nos últimos seis meses na província moçambicana do Niassa, segundo dados da Agência Nacional para Controlo da Qualidade Ambiental (AQUA). Alice Mapondo, delegada provincial da agência, diz que 15 viaturas que transportavam ilegalmente carvão vegetal e madeiras de diversas espécies foram sancionadas somente no primeiro semestre de 2021.
Segundo Mapondo, o número de apreensões aumentou em quase 50% em comparação com o ano passado. Muitos cidadãos tiveram viaturas apreendidas por falta de guias de marchas, que é a autorização específica para o trânsito com a madeira.
“Esse ano, ao nível da cidade, fiscalizamos 15 viaturas de carvão vegetal e madeira. De janeiro a junho, foram apreendidos 41,8 cúbicos de madeira. Estamos a falar de mbila, mbau e mugonha. No ano passado, foram 23,3 metros cúbicos. Para esse ano, houve crescimento, porque nós aumentamos as ações de fiscalização nos postos fixos e através das brigadas móveis”, explicou.
Carvão sustentável
Com a intenção de diminuir os impactos ambientais e sociais da produção de carvão, várias iniciativas têm se espalhado pelo país. O objetivo é chegar a um carvão amigável ao meio ambiente, um produto que tenha qualidade, mas que não destrua a natureza.
Para o ambientalista Faustino Nassera, existem outras maneiras de exploração dos recursos florestais que podem ter baixo impacto nas florestas. E alerta para as consequências de uma desflorestação acelerada e sem o manejo adequado.
“Se nós temos situações dessa natureza, uma quantidade muito elevada de madeira apreendida com número que nos assusta, que futuramente podemos ter problema, posso dizer que é falta de consciencialização da própria comunidade e de continuidade de algumas ações que a sociedade civil fez junto ao serviço provincial do meio ambiente”, afirma.
Nassera incentiva as comunidades do Niassa a organizarem associações para a promoção de uma cultura de exploração dos recursos florestais de forma sustentável. “Provamos que era possível produzir o carvão fazendo a poda, sem precisar de abater toda árvore”, conta.
Produção artesanal
A Associação dos Jovens para o Desenvolvimento Ambiental do Niassa (AJUDAN) teve a iniciativa de produzir carvão a partir do papel. A ideia surgiu no âmbito da reciclagem de papel e da tentativa de proteção dos recursos florestais, minimizando o abate das árvores para produção do carvão.
Segundo o coordenador de AJUDAN, Manuel Carlos, a forma de produção de carvão ecológico ainda é artesanal – junta-se papéis usados, favos de ovo e caixas e faz-se a mistura manualmente.
“Temos misturado o papel que já foi usado, jogado na lixeira de algumas instituições. Juntamos com caixa, assim como favos de ovos, misturamos e deixamos por volta de dois a três dias. Daí amassamos o papel e, depois de duas horas, guardamos e enrolamos usando a palma da mão para medir o tamanho do carvão”, explica.
“Depois de quatro dias, tivemos uma experiência de sucesso, mas surpreende que a cinza do carvão de papel misturado com sabão pode ser usada como tinta para a primeira camada de pintura de uma casa.”
Mesmo com o carvão ecológico, a sociedade ainda não acredita que o carvão feito de papel é eficaz e económico. Alguns ativistas acham que é o momento para uma campanha de consciencialização sobre o tema.