"Esta luta é contra o fascismo, pela liberdade. Aqui estamos de novo, onde tudo começou", declarou o presidente do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), Özgür Özel, perante uma multidão reunida em frente à sede do município de Istambul, em Saraçhane.
De seguida, dirigindo-se ao presidente Recep Tayyip Erdogan, Özel apontou: "Vocês vão embora. Ekrem Imamoglu será presidente".
Özel leu uma mensagem de Imamoglu, detido em 19 de março e preso desde então sob acusações de corrupção, que nega, afirmando que "nenhum poder pode resistir a uma nação que defende a justiça e a liberdade".
Hoje de manhã, mais de 120 membros da CHP do município de Izmir, na costa do mar Egeu, foram detidos, também acusados de corrupção.
"Estamos perante um processo semelhante ao de Istambul", denunciou o vice-presidente da CHP, Murat Bakan.
"Estas prisões não são uma questão de necessidade legal, mas de uma clara escolha política", acrescentou.
A detenção de Ekrem Imamoglu, o favorito para enfrentar o Presidente Erdogan nas próximas eleições presidenciais de 2028, desencadeou uma onda de protestos a uma escala nunca vista desde os enormes protestos de Gezi, em 2013.
Dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas todas as noites durante uma semana nas principais cidades da Turquia, incluindo Istambul, Ancara e Izmir. Milhares foram presos.
O CHP, partido fundado pelo 'pai' da República Turca, Mustafa Kemal "Atatürk", e principal força da oposição no Parlamento, enfrentando também um processo por fraude durante o seu último congresso em novembro de 2023, que ameaça destituir Özel.
O partido da oposição acredita que este processo visa pressioná-lo e puni-lo por organizar os protestos de março e pela sua contínua subida nas sondagens eleitorais.
O julgamento, que começou na segunda-feira perante um tribunal de Ancara, foi adiado para 08 de setembro.
O comício em Saraçhane encerrou um dia agitado, depois de cerca de 300 manifestantes, que se reuniram no coração de Istambul apesar das proibições, terem criticado a revista satírica Leman, acusada de publicar uma caricatura a troçar o profeta Maomé, uma alegação que a equipa editorial nega veementemente.
Reunidos dentro e à volta da mesquita Taksim, os manifestantes denunciaram a caricatura, gritando "Leman, seus sacanas, não se esqueçam do Charlie Hebdo", observaram os jornalistas da agência France-Presse (AFP).
Tratava-se de uma referência explícita e ameaçadora aos ataques 'jihadistas' contra o semanário satírico francês em 07 de janeiro de 2015, que dizimaram a redação e fizeram 12 mortos e 11 feridos.
O Presidente Recep Tayyip Erdogan já tinha criticado hoje a caricatura, considerando-a uma "provocação vil" e descrevendo-a como um "crime de ódio".
"A falta de respeito pelo nosso Profeta por parte de indivíduos imorais, desprovidos dos valores desta nação (…) é totalmente inaceitável", criticou duramente o chefe do Estado islâmico-conservador, no poder desde 2003.
Quatro colaboradores da revista, incluindo o autor da caricatura em causa, foram detidos, acusados de quererem "denegrir abertamente os valores religiosos".
O editor-chefe da revista, Tuncay Akgun, que estava em viagem no estrangeiro, negou qualquer intenção maliciosa.
"Este desenho não é de forma alguma uma caricatura do profeta Maomé", apontou à AFP, defendendo que a personagem é um muçulmano morto em Gaza durante os bombardeamentos israelitas.
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Fonte: Notícias ao Minuto