Fonte: O País
As escolas primárias públicas na Cidade de Maputo recorrem às plataformas digitais para interagir com os alunos, de modo a fazer face à suspensão das aulas presenciais no país. Porém, há pais que continuam a deslocar-se às escolas para obter fichas de apoio por falta de meios tecnológicos.
Salas de aulas, corredores e pátios totalmente vazios e silêncio… é o cenário instalado em algumas escolas primárias visitadas na manhã desta quinta-feira pelo“O País”, para perceber como está a ser feito o acompanhamento dos alunos, depois da suspensão das aulas presenciais.
Na Escola Primária do Alto-maé, por exemplo, o uso das plataformas digitais, com destaque o WhatsApp, tem dominado o processo actual de ensino e aprendizagem.
Sem gravar entrevista, uma fonte ligada à escola disse que, inicialmente, por causa das enchentes registadas para obter fichas de apoio, foi preciso travar a ida dos encarregados de educação ao estabelecimento, optando-se, assim, pelo uso das plataformas digitais e só em casos excepcionais é que pode ser levantado, na escola, o material de estudo.
Entretanto, uma encarregada de educação interpelada pelo “O País”, que pediu anonimato, diz estar a ter constrangimentos na disponibilidade de material através de tais plataformas.
“Criou-se um grupo de WhatsApp, mas esse grupo já tinha sido criado numa outra reunião, na qual foram escolhidos mãe e pai da turma”. Então, a mãe da turma diz que havia perdido telemóvel e devia criar-se um outro grupo. Então, fez-se uma lista de pais para esse novo grupo, para que fôssemos adicionados. No entanto, até hoje, ainda não fui adicionada e há necessidade de dar acompanhamento ao meu filho.”
Apesar dos problemas, a encarregada de educação considera ser mais prático e seguro optar pelas plataformas digitais para evitar aglomerações.
“É mais fácil estar no WhatsApp pela questão de distanciamento. Então, se a gente tem WhatsApp, baixa, faz a impressão e fica a dar orientação em casa.”
Já na Escola Primária de Mincadjuine, na Cidade de Maputo, “O País” encontrou dois alunos que, por falta de meios digitais para ter acesso às fichas, contam que devem ir à escola para não ficarem atrás do processo.
“Vínhamos levar as fichas, depois, disseram-nos que é para passar apontamentos e que a ficha está na vitrina. Assim, temos que copiar a ficha e ir resolver os exercícios em casa”, disse uma das alunas”.
Contudo, durante este período de suspensão das aulas, o director pedagógico da Escola Primária do 3 de Fevereiro considera satisfatória a interação com os alunos.
“Os próprios pais também perceberam que tratar a troca dos documentos de forma física é um pouco complicado. Acho que perceberam que era mesmo necessário usarmos essas plataformas. Mas, alguns têm aparecido, para ter informação aqui, porque também disponibilizamos ficha na vitrina”, explicou o gestor escolar.
Ana Ribeiro, uma das professoras daquela escola, disse que o papel dos encarregados de educação na monitoria dos trabalhos é fundamental, respondendo, desta forma, à pergunta sobre como tem sido o processo de elaboração das fichas e o desempenho dos alunos, face à suspensão das aulas presenciais.
“Eles vêm buscar, mas afinal de contas tem a ver com o acompanhamento directo dos alunos. Não basta só levantar os trabalhos, pois é necessário que os encarregados nos ajudem na elaboração desses mesmos trabalhos”, frisou.
A suspensão de aulas em alguns pontos do país faz parte das medidas preventivas da COVID-19, anunciadas recentemente pelo Presidente da República, Filipe Nyusi.