Fonte: DW
Analistas africanos defendem que Ocidente não deve ser “sobrecarregado” com os problemas do continente. Especialistas, personalidades e estudiosos publicaram carta aberta apelando por paz negociada na Etiópia.
Na esperança de aumentar a pressão sobre as partes em conflito na região de Tigray, na Etiópia, dezenas de estudiosos e ativistas africanos publicaram uma carta aberta apelando a uma paz negociada.
“A Etiópia está no precipício”, lê-se no documento que condena “o facto de o conflito, caracterizado cada vez mais por violações dos direitos humanos, continuar a afetar um número crescente de civis”.
Mamadou Diouf é professor de Estudos Africanos na Universidade de Columbia, nos EUA, e um dos signatários da carta. À DW, afirma que “a incapacidade de prevenir este conflito é um fracasso de África como um todo”.
Diouf defende que cabe ao continente, especialmente à União Africana, encontrar uma solução. “Não podemos sobrecarregar o Ocidente com os nossos problemas. Temos um aumento desta situação em África, porque as nossas instituições não estão à altura da sua tarefa”, argumenta.
Poucas hipóteses de negociação
Na semana passada, a União Africana nomeou o ex-Presidente nigeriano Olusegun Obasanjo como mediador. Mas as suas hipóteses de alcançar a paz não parecem promissoras já que a Frente de Libertação do Tigray (TPLF) não considera a União Africana uma entidade imparcial.
O conflito no norte da Etiópia, que se arrasta desde novembro, provocou uma crise humanitária no país que, segundo Hassan Khannenje, diretor do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (HORN), sediado no Quénia, pode se alastrar a vários outros países.
“Os conflitos na Etiópia são profundamente preocupantes para muitos países africanos, em parte porque a sede política da União Africana é em Adis Abeba. Outra razão é que a Etiópia é o segundo maior país de África em termos de população, é um dos Estados-âncora no Corno de África”, explica.
O peso da Etiópia
Khannenje explica que qualquer tipo de instabilidade na Etiópia afetará não só o continente, mas todo o mundo. Segundo o diretor do HORN, para um país que tem mais de 115 milhões de habitantes, “uma potencial desintegração significará que o mundo vai assistir a uma crise de refugiados nunca antes vista”.
Para que se evite esta catástrofe, defende Khannenje, o mundo tem de aumentar a pressão sobre os dois lados. O analista explica que ambos os grupos em luta acreditam que podem ter uma solução militar para o conflito. O primeiro-ministro Abiy Ahmed Ali sente que ainda está no comando e os rebeldes sentem, por causa dos avanços obtidos nas últimas semanas, que talvez possam exercer pressão suficiente para arrancar mais concessões do governo.
“Há um impasse, e isto não ajuda. Se houver algum tipo de intervenção, especialmente por parte das Nações Unidas, é provável que haja uma mudança no tom e na inflexibilidade a que estamos a assistir, não só por parte de Abiy, mas também por parte dos rebeldes”, calcula Khannenje.
Cada vez mais isolado dos seus aliados no Ocidente, o primeiro-pinistro etíope tem estado a procurar apoio entre os países africanos. Recentemente, encontrou-se com o Presidente ruandês Paul Kagame e o seu homólogo ugandês Yoweri Museveni.