Fonte: EuroNews
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou que se vai recandidatar a um segundo mandato de cinco anos, na segunda-feira, em Berlim (Alemanha), durante uma reunião do CDU, o partido de centro-direita alemão que faz parte do Partido Popular Europeu.
O anúncio põe fim a semanas de especulação sobre o futuro da política alemã quando se aproximam as eleições europeias de junho. O seu nome tinha sido, também, mencionado para o cargo de secretária-geral da NATO, face ao término, em breve, do mandato de Jens Stoltenberg. “O mundo atual é completamente diferente do que era em 2019. Passámos por muita coisa juntos nos últimos cinco anos e penso que se pode dizer que conseguimos mais do que alguma vez poderíamos imaginar”, afirmou.
“Nestes cinco anos, não só a minha paixão pela Europa cresceu, mas também a minha experiência do quanto esta Europa pode alcançar para os seus cidadãos”, acrescentou.
Numa referência pouco velada à ascensão dos partidos de extrema-direita em vários países europeus, von der Leyen prometeu “tornar o centro forte” e defender o bloco “contra as forças de divisão internas e externas”.
“Estou firmemente convencida de que isso é possível e que temos a força para o fazer. E é essa a tarefa que me proponho”, afirmou.
A nomeação oficial de Ursula Von der Leyen como candidata do Partido Popular Europeu (PPE), decorrerá no congresso do partido, em março, em Bucareste (capital da Roménia). O PPE tinha fixado o dia 21 de fevereiro como data limite para a apresentação de candidaturas internas.
Com a oficialização da candidatura, von der Leyen tem fortes probabilidades de conseguir o segundo manadato porque o PPE está à frente nas sondagens e deverá manter-se como partido com maior número de assentos no Parlamento Europeu.
O titular da presidência da Comissão Europeia é nomeado pelos líderes dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE), tendo em conta os resultados das eleições europeias, e costuma ser atribuído ao principal candidato do partido que vences as eleições europeias.
Ao longo do seu primeiro mandato, von der Leyen, uma oradora talentosa, uma negociadora ágil e uma viajante entusiasta, estabeleceu laços estreitos com a maioria dos chefes de Estado e de doverno da UE, alguns dos quais, como o finlandês Petteri Orpo e o sueco Ulf Kristersson, já afirmaram que apoiariam de bom grado a sua candidatura.
Também será crucial ter desenvolvido uma boa relação de trabalho com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que lidera um partido de extrema-direita e cujos eurodeputados estão nos Conservadores e Reformistas Europeus,no Parlamento Europeu, uma bancada que poderá ganhar uma grande influência após as eleições, segundo as sondagens.
Mesmo alguns políticos socialistas, tal como o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, manifestaram vontade de apoiar von der Leyen num segundo mandato.
Tensão com PM da Hungria não será obstáculo
O único primeiro-ministro que poderá opor-se à candidatura de von der Leyen é o húngaro Viktor Orbán, que tem estado sob o escrutínio intenso da Comissão Europeia pelo retrocesso democrático do seu país.
O executivo comunitário congelou milhares de milhões de fundos de coesão e de recuperação atribuídos à Hungria devido a violações do Estado de direito e instaurou vários processos por infração para alinhar o país com a legislação da UE.
Em retaliação, Orbán intensificou os seus ataques contra von der Leyen e a sua equipa, chegando ao ponto de a apelidar de “empregada paga” dos dirigentes da UE. Em dezembro, o Governo de Orbán foi fortemente criticado por ter colocado o rosto de von der Leyen em cartazes distribuídos como parte de uma consulta nacional anti-UE.
No entanto, de acordo com os tratados, o presidente da Comissão Europeia é nomeado por maioria qualificada no Conselho Europeu, uma regra que, em teoria, impediria Orbán de a bloquear recorrendo a veto.
Decisão final no Parlamento Europeu
A proposta do Conselho Europeu segue depois para o Parlamento Europeu, onde precisa de uma maioria absoluta para ser aprovada. É aqui que as coisas podem tornar-se mais complicadas para von der Leyen.
Antes de iniciar o primeiro mandato, em 2019, Ursula von der Leyen recebeu 383 votos a favor, pouco mais dos 374 votos necessários, o que ilustra a indignação do hemiciclo com a sua nomeação surpresa já que o candidato principal do PPE era Manfred Weber.
O nome de von der Leyen foi uma proposta do presidente francês, Emmanuel Macron, que viu nela uma política conservadora com opiniões moderadas e flexíveis, capaz de agradar à fação de esquerda do Conselho Europeu.
Aquela que é a primeira mulher a liderar o executivo comunitário, apresentou uma agenda política de mudança do paradigma económico através do Pacto Ecológico Europeu, e a sua equipa trabalhou em temas centrais tais como fundo “Próxima Geração UE” para lidar com os impactos da pandemia de Covid-19, a Lei da Inteligência Artificial e o Pacto da UE parea Migração e Asilo.
Ursula von der Leyen também obteve apoio pela sua liderança decisiva na sequência da invasão da Ucrânia em larga escala pela Rússia, que se traduziu num conjunto de sanções sem precedentes contra o governo do Kremlin, a eliminação de combustíveis fósseis importados desse país e a abertura de negociações de adesão à UE com o governo da Ucrânia.
A revista Forbes designou-a Mulher Mais Poderosa, em 2022 e 2023. Nas redes sociais, Ursula von der Leyen descreve-se como “europeia de coração”.
Dias mais sombrios?
Mas, nos últimos meses, o seu legado, em particular as políticas ligadas ao Pacto Ecológico, tem sido alvo de críticas por parte do PPE, que considera implicar uma carga burocrática excessiva para a indústria e a agricultura.
Os protestos dos agricultores que irromperam, em janeiro, em vários países europeus, reforçaram ainda mais a posição antagónica do PPE e obrigaram von der Leyen a mudar de tom: “Só se os nossos agricultores puderem viver da terra é que vão investir no futuro. E só se conseguirmos atingir os nossos objetivos climáticos e ambientais em conjunto é que os agricultores poderão continuar a ganhar a vida”.
Von der Leyen vai continuar a ser pressionada, mas isso pode custar-lhe o apoio fundamental dos partidos socialistas, dos verdes e até dos liberais, que receiam que o PPE se esteja a apropriar dos argumentos da extrema-direita.
Ainda assim, o ciclo eleitoral deverá ser dominado por questões que favorecem os partidos conservadores: reações contra as políticas ambientais, migração irregular, crise do custo de vida e perda de competitividade. Algumas sondagens alertam, no entanto, para o facto de muitos eleitores continuarem muito preocupados com a crise climática e as catástrofes naturais.
Nascida em 1958, von der Leyen é filha de um dos primeiros funcionários públicos das instituições europeias e viveu em Bruxelas até aos 13 anos, altura em que se mudou para a Baixa Saxónia. Estudou medicina e aderiu à CDU em 1990. Von der Leyen foi ministra em todos os gabinetes da antiga chanceler alemã Angela Merkel. A sua última pasta foi a da Defesa, uma tarefa que a viu envolvida num escândalo de contratação irregular de consultores.